sexta-feira, setembro 29, 2006

Bolo de mandioca com coco

(da série «coisas que me fazem feliz»)

A primera fatia para a mesa do fundo.

Um pedido seu, uma ordem (ou uma ordem, um pedido). É um prazer tê-lo no estabelecimento, meu caro Julinho.

nota . Peço perdão por trazer a mesa do fundo para o centro da sala, mas este tasco é sempre discreto.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Secas de fim de tarde

Ao contrário das expectativas criadas, o post anterior não resultou numa explosão de e-mails, telefonemas ou sms com mensagens animadoras. Como reacção, obtive um comentário amigo: «Vais ter um blogue só que coisas boas!? Seca!». Certo, ninguém quer uma bebidinha aguada e destemperada (já nos basta o serviço ser só de chazinho) e eu espero não deixar de lado a pimentinha mais ou menos maldosa. Mas, para já, fica esta seca de fim de tarde, que me deixa de bem com os dias*:


Ah, e, já que é de graça**:


* Maputo, foto de TC

** Angoche

segunda-feira, setembro 25, 2006

Coisas de que me fazem feliz em Moçambique


Quando escrevo algum texto, ou argumento verbalmente, tendo a centrar-me nas questões que me parecem menos inteligíveis, esquecendo, com frequência, de clarificar o que categorizo como óbvio. Ora, o óbvio pode sê-lo por variadíssimas causas e estas nem sempre são partilhadas pelos interlocutores das conversas ou pelos destinatários do que escrevo (ou porque são pessoais, ou porque se prendem com reflexões, referências ou associações que não menciono, ou, não vale a pena mentir, porque não fazem mesmo qualquer sentido). Nem sempre tenho consciência de estar a incorrer neste erro. Em consequência, a interpretação dos meus argumentos ou exposição pode ser enviesada. Daí que tente combater essa fraqueza.
(nota: qualquer associação deste paleio aos topoi e às hermenêuticas diatópicas do BSS é pura coincidência).

Olhando o chá do Gurué, reparo ter mais posts negativos do que positivos sobre Moçambique. A explicação reside no que acabo de expor. As coisas boas têm sido mais óbvias, daí que tenda a desconsiderar a sua partilha. Parece-me altura de inverter esta tendência. Não porque tenha ultrapassado este defeito, mas, ao contrário, porque vivo um momento que necessita de ser preenchido com coisas bonitas. Os motivos são vários e de diferentes tamanhos. Há os grandes, como as saudades infinitas de quem está longe ou este tipo de situações. Há os pequenos, como estar sem elevador há dois meses e ver-me obrigada a subir dez andares para chegar a casa. Ter um trabalho muito importante para acabar traz-me, ainda, uma dose acrescida de mal estar com o mundo, em particular quando estou no primeiro andar do prédio. Ah, e quando estreia um filme do Almodovar na Europa, tenho sempre estas crises.

Como ainda não percebi muito bem a utilidade deste chá, acho que não vem mal ao mundo, se lhe der fins terapêuticos. É bem mais barato que qualquer especialista.

Isto tudo para dizer que inicio aqui uma série de posts positivos: coisas que me fazem feliz em Moçambique. As regras excluem o envolvimento de outras pessoas, já que o confessionalismo deste chá termina onde começa a privacidade dos outros (e a minha, claro, mas essa sou eu que defino e, além de maleável, é moldável, posso mentir quanto eu quiser, afinal o blogue é meu). Não prometo, como é regra, dar crédito durante muito tempo à terapia.

terça-feira, setembro 19, 2006

Chá de magia especial

Arroz doce da avó. Das receitas com canela e amor. Há sabores que não se repetem. Há momentos que ficam para sempre.

«5 dias»

Para os blogodistraídos que, por estranhas razões, se salpicam deste chá e também para os outros, acaso não tenham ainda dado conta, abriu ali um espaço, que promete e muito. Eu hei-de espreitá-lo sempre que tenha oportunidade, sendo que, às segundas feiras, passarei lá de certeza. Começaram da melhor forma. Não me lembro de melhor maneira de começar um blogue (ou «uma sucessão de blogues individuais e personalizados ou, melhor ainda, um portal de opinião e notícias com um editor diferente em cada dia da semana») do que com o Rui Tavares. Altas as expectativas.

terça-feira, setembro 05, 2006

Lacunas na formação

Há regras básicas de convivência que as crianças devem aprender desde cedo. Assim, é comum ver os pais insistirem nos «obrigado», «por favor», «adeus» ou em ensinamentos como «obedece à avó» ou «não digas palavrões»... De um modo geral, as crianças aprendem e, ao atingirem a idade adulta, ou antes disso, não cometem grandes erros, pelo menos por ignorância.

Há, contudo, lacunas graves na formação dos adultos. Neste momento, uma perturba-me particularmente. Assim, o apelo que faço a todos os pais e a todas as mães que eventualmente viajem por este chá é que acrescentem um ensinamento aos filhos (e, já agora, aos amigos dos filhos, aos familiares, colegas e seres humanos em geral) uma regra de convivência básica que, aparentemente, a maioria ignora:

É falta de educação colocar a pergunta
«COMO É QUE VAI A TESE?»


Se não houver assunto, a conversa esgotar, é preferível perguntar pela vida sexual do interlocutor. É menos invasor e muito menos confrangedor.

Já li outras tentativas de sensibilização para esta questão, mas sei que é uma batalha difícil. Este é o meu modesto contributo. Grata pela atenção.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Integridades

Sexta-feira teve inicio um seminário sobre reforço e integridade dos magistrados. A sala estava cheia, entre juizes vindos de todo o país, ministra da justiça, representantes de ONGs, corpo diplomático e eventualmente alguns não convidados (era o meu caso). A pompa foi a esperada. Trajes formais (os sapatos feios e a as gravatas do costume), povo em pé à entrada das excelências e hino nacional. Não sei se é assim desde sempre, mas ao ler isto e isto, entendo o arremeter à força do hino nacional, sem receio da sua banalização. «Ai, um dia hão de aprender a gostar!». E assim dá-se início a um seminário de três dias, com dois de intervalo (começa na sexta e retoma na segunda). Os que vêm de fora agradecem. Dá-se largas à imaginação para gastar dinheiro. E discute-se integridade. A presidir à cerimónia está aquele senhor, perdão!, sua excelência Senhor Juiz, que preside ao mais alto tribunal do país. Há uns tempos, um relatório da USAID sobre corrupção nos tribunais deixava muito mal vista a justiça, em particular o tribunal supremo e o seu presidente. Nem chegou a chamuscar, a vida seguiu em frente e não houve lugar a justificações. Justi... quê!? E lá estava ele, senhor da justiça, a admitir que a corrupção é um mal que afecta o judiciário, mas que ser incorruptível não significa ser íntegro. Entre outras coisas, importa a forma como nos comportamos na vida pública e privada (é bom acrescentar indicadores à integridade, pode ser que se salve algum!). Depois da abertura, foi a vez do Centro de Formação Jurídica e Judiciária apresentar os relatórios sobre o perfil dos magistrados e dos oficiais de justiça. Assim, a parte científica do seminário coube à instituição que há uns dias o presidente do evento punha em causa, acusando-a de manipular a selecção de formandos para o curso de ingresso à magistratura, sem sentir necessidade de explicar como isso acontece ou o que o conduz a tais acusações (Jornal Meia Noite, 29 de Agosto). E perante tal pompa, ao fim de três exposições por parte dos investigadores do CFJJ que elaboraram os relatórios, não surgiu uma pergunta, um comentário ou uma crítica por parte dos juizes ou da própria ministra da justiça... O almoço não era mau.

PS. Este chá anda um bocado amargo. Para breve, um chá de magia...