domingo, outubro 22, 2006

Há um ano a blogosfera ficou melhor

Começou, quase em segredo, num post que se dizia tropeçado. Vieram referências a livros, histórias do quotidiano, críticas mais ou menos duras, comentários políticos, fotografias com significado. À espreita, sempre atento, o ideal que lhe deu o nome: independência/liberdade. Comemora nas boxes o primeiro aniversário. Acontece mesmo aos mais livres. Esperamos que os técnicos resolvam rapidamente a avaria. Por enquanto, a blogosfera está mais pobre.
Parabéns Nhkululeko.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Superioridades morais

Em tempos, escrevi um post sobre diferentes significados que o conceito de emancipação feminina pode vestir. Entre outras coisas, estava em causa a questão da poligamia. Afirmava, referindo-me a julgamentos morais sobre realidades africanas, que:

Para muitas feministas, a poligamia é uma das graves situações de discriminação feminina de que é cúmplice a justiça tradicional. Tenho dúvidas de que o alvo - a poligamia e a justiça tradicional - seja o mais acertado, uma vez que o problema remonta às desigualdades que começam bem antes da puberdade, no acesso à educação e, por consequência, aos recursos, que permitiriam à mulher optar por aceitar, ou não, um homem polígamo ou qualquer homem.

Acrescentava que a suposta superioridade das mulheres ocidentais deixa muito a desejar quando olhada à luz das pressões a que estão sujeitas. Entre um rol de obrigações, que vão desde a estética às competências, dizia eu que temos que ser capazes de uma vida sexual sempre activa e magnífica, ou não seremos emancipadas, que é como quem diz, na expressão que uso entre amigos e que na altura não me atrevi a usar, «temos que ter muitos orgasmos ou somos falhadas».

Nessa altura estava longe de prever o post que a Fernanda Câncio, (aliás fernanda câncio), escreveu hoje. Ao que parece, não basta quaisquer orgasmos, têm que ser à custa de facadinhas. f. começa por falar da nova série da SIC, a tal de Jura (eu estou longe desse mundo, mas como quem lê blogues sabe tudo o que não interessa, já tinha ouvido falar), e parte para a questão da infidelidade e do valor que a sociedade lhe atribui. Segundo a f. os portugueses descobriram a infidelidade. Eu pensava que essa realidade ficava no cinema francês e nas séries tipo «Venus e Apolo», mas acabo de descobrir que, também em Portugal, anda tudo fascinadinho «pela ideia de infidelidade. como se quisesse certificar que, por ali, nada é monótono, fastidioso, tristemente caseiro, cinzentamente igual. a infidelidade é apresentada como certificado de sofisticação, cosmopolitismo e elevação».

E diz a f. (eu subscrevo), que
«tudo isto, desculpem lá, é sumamente parolo e claramente subsidiário do mais estafado sistema de valores, uma espécie de rebeldia bacoca contra os ensinamentos do pároco da aldeia […] toda a gente mente, toda a gente é desleal de vez em quando, e a maioria será infiel, no sentido sexual, mais tarde ou mais cedo. é da vida. mas não é decerto motivo de orgulho, nem critério de estratificação social do género 'coitadinhos dos pobrezinhos, são tão saloios e têm tanta falta de imaginação, arroubo e tempo que não conseguem sequer ser infiéis, que vida enfadonha devem ter, sem saber o gozo que dá usar a hora de almoço para uma escapadela e chegar a casa com ar de santinha/o, como se nada se tivesse passado!'».

Este post termina com uma frase com que eu podia ter fechado o meu das emancipações: «parece-me que basear nisto uma presunção de superioridade é que é uma tristeza». Lá em cima, a superioridade ocidental residia na ideia da monogamia, que constrastava com a realidade das pobres mulheres africanas sujeitas à poligamia; no post da f. é a infidelidade que está no topo da estratíficação.

Ai, poupem-nos... aos paternalismos, estratificações por conta de com quem se dorme e superioridades morais, venham elas dos ensinamentos do padre da aldeia ou das revoltas contra os mesmos!

sexta-feira, outubro 13, 2006

Clássicos do stress

Começar com entusiasmo. Dúvidas e angústias a meio do caminho: «estará tudo pronto a tempo?», «seria melhor de outra forma?», «o plano inicial previa coisas impossíveis», «podia ter feito outra opção». É normal. O trabalho devia ter começado mais cedo. Sempre assim. Gasta-se demasiado dinheiro. Os momentos de depressão alternam-se com os de entusiasmo. Há dias em que ninguém pode compreender a ansiedade. Esquecem-se outras coisas. Se tudo correr bem, acabará em ritual, haverá copos e grande farra, obter-se-á novo título, que não se sabe bem para que serve. Vai correr. Escrever uma tese e preparar um casamento são desafios não tão diferentes! A vantagem deste último é ser partilhado. Não ter um júri empoleirado e terminar em noite de núpcias são vantagens consideráveis. E tem vestido de noiva! Vestido de noiva anima maningue! E, depois, ainda há as prendas...
(Para T)

quinta-feira, outubro 12, 2006

Primeiro aniversário

Viajante da blogo-estrada
Bem podes querer discrição
Isso não me interessa nada
Vim compor esta canção!

Ó homem de antigamente
Não tens como o evitar
O teu arquivo não mente
O chá quer comemorar!

Há alguns dias de atraso
Mas isso, claro, tem perdão
Nem tudo tem que ter prazo
Quando vem do coração!

Aqui fica a minha vela
Não fujas, tens que soprar
Podes não querer saber dela
Mas isto é giro a rimar!

terça-feira, outubro 10, 2006

Chá de camomila

«Chega aonde tu quiseres, mas goza bem a tua rota»

segunda-feira, outubro 02, 2006

Cof! Cof!

(ou pequena pausa nos posts felizes)


No Nkhululeko, este post e este mostram, de forma eloquente, problemas que corroem a sociedade moçambicana, desgastam a democracia e a paciência do cidadão. E não falam da corrupção do judiciário, do deficiente acesso à justiça, da pobreza, do analfabetismo, do pandemia do HIV, da criminalidade, da burocracia. Prendem-se com a postura perante todos estes problemas. Aí reside a maior das angústias, porque aí se dilui a crença de um outro Moçambique possível.

O primeiro, fala da transformação dos problemas em forma de vida, ou se preferirmos, fonte de receita. «Memórias, relatos, discursos, diagnósticos, péssimas repetições, desculpas previsíveis, pompas, gravatas, marcas, mas sobretudo vazios. Ausência de tudo. Que importa? Rende e rende bem.», diz-se. Lembro-me das minhas angústias lá de baixo. E de um relatório lançado sexta-feira. Também neste, tanta pompa para tanto medo de falar e trabalho de casa feito a correr. Não é preciso mais, os objectivos estão cumpridos, o bolso engordou, o trabalho está cá fora, a edição não é má e a distribuição até é gratuita (chegará a quem?). Mas, não adianta colocar todo fardo em cima de uma geração, ou de quem a segue. Cada um tem o seu papel e chega de um país onde ninguém tem culpa. Estamos a cumprir o que nos cabe? Sabemos que é tempo de sermos mais audazes nas poucas oportunidades que restam.

Em relação ao «estamos felizes», não, não estamos, por muito que a m-cel nos queira convencer (e por muito jeito que dê ao poder político (eles adoram-se!!)). A imagem mostrada é a antítese da que a STV optou por mostrar. Algures confirmou-se a ausência do músico, dando-lhe pouco relevo e desresponsabilizando a organização, que, infeliz!, desconhece os motivos. E elogiou-se a segurança, feita de polícias e cães, bem com os serviços de primeiros socorros. Adivinhava-se, claro. O que mostra este post é a imagem quotidiana do autoritarismo, do segurança que dita o dia de alguém. O que mostra a televisão, estou cada vez mais convencida, é muita desinformação. Estamos fartos, estamos muito fartos. E o Verão amarelo começou, não é tempo de problemas.