segunda-feira, outubro 02, 2006

Cof! Cof!

(ou pequena pausa nos posts felizes)


No Nkhululeko, este post e este mostram, de forma eloquente, problemas que corroem a sociedade moçambicana, desgastam a democracia e a paciência do cidadão. E não falam da corrupção do judiciário, do deficiente acesso à justiça, da pobreza, do analfabetismo, do pandemia do HIV, da criminalidade, da burocracia. Prendem-se com a postura perante todos estes problemas. Aí reside a maior das angústias, porque aí se dilui a crença de um outro Moçambique possível.

O primeiro, fala da transformação dos problemas em forma de vida, ou se preferirmos, fonte de receita. «Memórias, relatos, discursos, diagnósticos, péssimas repetições, desculpas previsíveis, pompas, gravatas, marcas, mas sobretudo vazios. Ausência de tudo. Que importa? Rende e rende bem.», diz-se. Lembro-me das minhas angústias lá de baixo. E de um relatório lançado sexta-feira. Também neste, tanta pompa para tanto medo de falar e trabalho de casa feito a correr. Não é preciso mais, os objectivos estão cumpridos, o bolso engordou, o trabalho está cá fora, a edição não é má e a distribuição até é gratuita (chegará a quem?). Mas, não adianta colocar todo fardo em cima de uma geração, ou de quem a segue. Cada um tem o seu papel e chega de um país onde ninguém tem culpa. Estamos a cumprir o que nos cabe? Sabemos que é tempo de sermos mais audazes nas poucas oportunidades que restam.

Em relação ao «estamos felizes», não, não estamos, por muito que a m-cel nos queira convencer (e por muito jeito que dê ao poder político (eles adoram-se!!)). A imagem mostrada é a antítese da que a STV optou por mostrar. Algures confirmou-se a ausência do músico, dando-lhe pouco relevo e desresponsabilizando a organização, que, infeliz!, desconhece os motivos. E elogiou-se a segurança, feita de polícias e cães, bem com os serviços de primeiros socorros. Adivinhava-se, claro. O que mostra este post é a imagem quotidiana do autoritarismo, do segurança que dita o dia de alguém. O que mostra a televisão, estou cada vez mais convencida, é muita desinformação. Estamos fartos, estamos muito fartos. E o Verão amarelo começou, não é tempo de problemas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Este é um post inconformado. E por isso mesmo muito feliz, PdT. A pimenta editorial faz parte deste chá. Ainda bem para quem o vai bebendo. Força! Mas também sabe bem com bolo de mandioca (ou com entrecosto?), como vejo anunciar.
Fizeste-me lembrar uma frase que marcou certos tempos e que simbolizou uma utopia: «é preciso ter imaginação e audácia». Pergunta muito difícil, que nos obriga a reflectir sobre nós próprios e sobre o mundo que sonhamos: «estamos a cumprir?».

Pé de Tulipe disse...

Olá caracol! Disseste a palavra chave: «inconformada». Às vezes, precisamos de lembrar-nos do que nos faz feliz para mantermos esse espirito de não conformação. Tenho medo de cair na crítica conformista, do «estou tão farta, que já não quero saber». Muitos do que o Nhkululeko critica, e eu própria, terão talvez passado por isso (a outros terá bastado o apelo ao bolso). Sei que já estive muito mais longe deste não querer saber, antes de ver ruir coisas em que muito me empenhei, juntamente com outras pessoas, que me faziam acreditar naquele outro moçambique. Os motivos não foram nobres. Mas sei que cabe-nos erguer o pouco que ficou. E para isso é preciso acreditar em coisas bonitas.

Anónimo disse...

Concordo contigo PdT. Acho que a critica nos demonstra sempre a actualidade do problema. Tratando-se das mazelas do nosso Pais cabe-nos assumir os nossos devidos papeis, assumir culpas, reclamar direitos e deveress, acima de tudo. Gostei muito do texto. Bjs meus

Pé de Tulipe disse...

É isso. E cabe-nos, ainda, não esquecer as coisas boas... Obrigada pelo comentário Diva.