Não está muito calor. A humidade é tal que chego a sentir que, se batesse os braços e os pés, podia nadar. Há muito que deixou de me incomodar. O segredo é não lhe resistir, deixá-la envolver-nos e permitir que o corpo reaja à sua maneira (mais ou menos pegajosa). Neste dias, o meu gabinete transforma-se num parque natural de vida animal em tamanho pequeno. As formigas, às dúzias, só me perturbam quando, na pausa para café, procuro a sombra da mangueira. Insistem em subir para os pés. Uma rapidez que não se lhes adivinha. De resto, não tenho boa relação com este tipo de animais selvagens. Por ali, há de tudo, desde lesmas, mascaradas de folhas, grudadas nas janelas; perigosos mosquitos fêmea; osgas que não têm barriga para tanto mosquito; marias-café (sabem lá alguns dos que por aqui passam o que são marias-café), sapos... Lá fora, há gala-gala e uma variedade de lagartos, cuja vida invejo quando, regressada do almoço e sonolenta, os apanho ao sol num tronco de coqueiro com uma expressão que não é de quem tem problemas. Há tempos, descobri uma lesma no braço e, de outra vez, uma maria-café no pé descalço. Não controlei reacções. Ninguém me deu atenção, fizeram todos bem. Odeio lesmas. São manhosas, molengonas, tem um ar fingido e traiçoeiro. Fazem-se de mortas, as sonsas. Não me incomodam os sapos. A osga é, sem dúvida, um bicho especial. Em tempos, vivi com uma durante vários dias. Foi ela que quis mudar-se. Limitava-me a olhar para o tecto e a forçar-me a acreditar que a mãe natureza não permitiria uma queda (em especial durante o meu sono). Não me atreveria a matá-la. Além de comerem os únicos seres verdadeiramente perigosos - os portadores do vírus da malária - têm um ar sobrenatural. Há mais ali do que pretendem revelar. São todas diferentes, rápidas e não nos faltam ao respeito como as lesmas. Saem da frente quando queremos passar. Temo-as, claro. Principalmente as transparentes. O José Eduardo Agualusa é que lhes caçou a pinta e eu só duvido que alguma delas venha a escrever um livro sobre os meus dias, porque não vendo passados, nem coisa que valha o trabalho da escrita. Para o fim, o pior (ani)mal. Não aparece muito durante o dia, mas, chegada esta altura mais quente, explode por todo o lado assim que o sol se põe. É pavoroso, vive em canos, tem antenas e asas, pode ser preto ou castanho avermelhado e tal como não há bomba nuclear que o extermine, não há cantiguinha para criança, esforço interno ou terapia de choque que me permita agir racionalmente cada vez que vejo uma barata. Não me peçam isso!
terça-feira, novembro 21, 2006
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4 comentários:
Aquilo de um dia irmos aí visitar-te era a brincar, não tenhas receio, escusas de fazer cenas, inventar "cenários"... tá sossegadinha...
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Esplanada de Carreço
Heheheh...
e não sei como é que me esqueci de falar daqueles insectos voadores enormes e semi-cegos que entram dentro de casa e frazem imenso barulho com as asas e a bater nas paredes... Quanto aos argumentos, não vou usar nenhum agora. Tenho algumas fotos, que, como se diz, valem mais do que umas quantas palavras... Espera...
Eu das osgas tambem percebo...vivi com uma, cerca de meia hora, no tecto do meu quarto e quando - em histeria absoluta - a matei com uma vassoura e ela caiu no chão - de barriga para o ar - pensava que tinha exterminado um sapo anão...e mesmo depois de ela estar morta fui dormir para o quarto da bajouca...como te compreendo!!
Estas osgas parecem lagartixas espalmadas. Eu não confessei uma coisa. Não consigo matar bichos e não é (só) por ser um ser humano com sentimentos nobres, é porque não consigo mesmo, faz parte da minha fobia, por isso até admiro a tua coragem frente ao sapo anão (pobre osguinha!)...
Mas, óh anónima, podes assinar os comentários. Não é só denúnciar outras pessoas, como a pessoa que te albergou ehehehe...
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