Quando escrevo algum texto, ou argumento verbalmente, tendo a centrar-me nas questões que me parecem menos inteligíveis, esquecendo, com frequência, de clarificar o que categorizo como óbvio. Ora, o óbvio pode sê-lo por variadíssimas causas e estas nem sempre são partilhadas pelos interlocutores das conversas ou pelos destinatários do que escrevo (ou porque são pessoais, ou porque se prendem com reflexões, referências ou associações que não menciono, ou, não vale a pena mentir, porque não fazem mesmo qualquer sentido). Nem sempre tenho consciência de estar a incorrer neste erro. Em consequência, a interpretação dos meus argumentos ou exposição pode ser enviesada. Daí que tente combater essa fraqueza.
(nota: qualquer associação deste paleio aos topoi e às hermenêuticas diatópicas do BSS é pura coincidência).
Olhando o chá do Gurué, reparo ter mais posts negativos do que positivos sobre Moçambique. A explicação reside no que acabo de expor. As coisas boas têm sido mais óbvias, daí que tenda a desconsiderar a sua partilha. Parece-me altura de inverter esta tendência. Não porque tenha ultrapassado este defeito, mas, ao contrário, porque vivo um momento que necessita de ser preenchido com coisas bonitas. Os motivos são vários e de diferentes tamanhos. Há os grandes, como as saudades infinitas de quem está longe ou este tipo de situações. Há os pequenos, como estar sem elevador há dois meses e ver-me obrigada a subir dez andares para chegar a casa. Ter um trabalho muito importante para acabar traz-me, ainda, uma dose acrescida de mal estar com o mundo, em particular quando estou no primeiro andar do prédio. Ah, e quando estreia um filme do Almodovar na Europa, tenho sempre estas crises.
Como ainda não percebi muito bem a utilidade deste chá, acho que não vem mal ao mundo, se lhe der fins terapêuticos. É bem mais barato que qualquer especialista.
Isto tudo para dizer que inicio aqui uma série de posts positivos: coisas que me fazem feliz em Moçambique. As regras excluem o envolvimento de outras pessoas, já que o confessionalismo deste chá termina onde começa a privacidade dos outros (e a minha, claro, mas essa sou eu que defino e, além de maleável, é moldável, posso mentir quanto eu quiser, afinal o blogue é meu). Não prometo, como é regra, dar crédito durante muito tempo à terapia.
Sem comentários:
Enviar um comentário