quinta-feira, julho 13, 2006

Emancipações





Uma questão frequentemente levantada a/e por cientistas sociais que estudam situações de pluralismo jurídico em África prende-se com os direitos das mulheres. Se as autoridades tradicionais, bem como outras instâncias comunitárias de resolução de conflitos, tendem a estreitar a distância entre cidadãos e acesso à justiça, por outro não garantem o cumprimento dos direitos humanos (definidos como tal), nomeadamente os das mulheres, pois assentam na continuada reprodução da posição subalterna que a sociedade tradicional atribuiu à mulher. Longe de ter uma resposta linear a esta questão, surgem-me outras reflexões. Para muitas feministas, a poligamia é uma das graves situações de discriminação feminina de que é cúmplice a justiça tradicional. Tenho dúvidas de que o alvo - a poligamia e a justiça tradicional - seja o mais acertado, uma vez que o problema remonta às desigualdades que começam bem antes da puberdade, no acesso à educação e, por consequência, aos recursos, que permitiriam à mulher optar por aceitar, ou não, um homem polígamo ou qualquer homem. Encontro no discurso de que as mulheres africanas não são respeitadas vestígios de um sentimento de superioridade, a que nenhum país pode dar-se ao luxo. Desde logo, não entendendo os sujeitos como passivos numa relação de poder, imagino, sim, que as mulheres desenvolverão as suas estratégias, de forma a criarem espaços de poder. Não são passivas. Olho agora para as mulheres ocidentalizadas. Mais emancipadas? Há uns meses, ao entrar na cidade onde nasci, em Portugal, sou invadida por uma outdoor que exibia, em biquini, o corpo perfeito de uma mulher bronzeada, com a seguinte mensagem: «os homens não gostam de celulite». Não era suficiente invadirem-nos as casas com fotografias de mulheres passadas a ferro no fotoshop? Não chegava para enriquecer as clínicas. Devemos sujeitar-nos a qualquer coisa e, agora, não porque queremos ser iguais às topmodels, já não nos convence!, mas porque os homens querem. Estamos a evoluir. Fácil. É recorrer às clínicas de estética, puxão aqui, corte acolá, sopro do outro lado. Fora isso, só temos que esforçar-nos por carreiras brilhantes, para não sermos falhadas; por conhecer na intimidade a nouvelle couisine, porque já não chegam os pratos vulgares lá de casa; por pagar um ginásio, que cobra horrores; por ter uma vida sexual sempre activa e magnífica, ou não seremos emancipadas; por fazer as melhores opções e lutar por elas, porque tudo está nosso alcance; por comprar a roupa mais adequada e ter estilo, porque uma mulher sucedida veste-se bem; por ler todos os livros; por ver todos os filmes. O meu argumento não defende, claro, que a emancipação feminina está errada, pelo contrário, crê que há muito para emancipar e, nesse sentido, há que olhar sem superioridade (ou piedade!) outras mulheres, que terão tanto a ensinar-nos, como a aprender connosco.

6 comentários:

Madalena disse...

Uma leitora a inscrever-se: nascida em Mocuba. Pertinho presumo! Boas páginas!

Filipe disse...
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Filipe disse...

Cheguei aqui através do nkhululeko.
Gostei, e vou voltar.
Para mim, a mulher (e o homem) está emancipada se é livre. A mulher ocidental (ou culturalmente ocidentalizada) começa a ter muitas correntes a prendê-la a uma imagem criada pelo consumo, não sei até que ponto será livre.

Anónimo disse...

Olá Madalena, já nos encontrámos por outras bandas (100 lugares). Aqui sou pé de tulipe, a mesma, mas num espacinho mais próprio. A minha casa. Continuarei do outro lado também.
Obrigada Filipe. Pelo consumo e pelo tanto que exigimos de nós mesmas!
Bem vindos!

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

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